Segundo Torres, a repetência é um dos maiores problemas escolares da atualidade , e afeta a maior parte dos sistemas escolares do mundo. A escola como não sabe lidar com a questão da não aprendizagem e com má qualidade de seu ensino criou a repetência como solução desses problemas. Portanto pensar a repetência é pensar na missão da escola, seu contexto e seus resultados.
A repetência é estudada desde o inicio do século XX nos países desenvolvidos, e nos paises em desenvolvimento estudos datam dos anos de 1960 e de 1970.
As estatísticas de 1990 registram 35,6 milhões de repetentes no ensino fundamental em todo o mundo. A repetência escolar acontece em maior número nos paises subdesenvolvidos e em desenvolvimento o que não insenta os paises industrializados que apontam um índice de 3 a 4%.
Convém mencionar que alguns países ainda não se deram conta da problemática da repetência escolar enquanto outros(principalmente países da América latina) já apontam com elaboração de diagnósticos e no projeto de políticas para combater a repetência escolar.
É comum omitirem os fatos sobre repetência escolar. Quando se trata da universalização do ensino fundamental a preocupação é somente com os dados referentes a matricula, não se preocupando se essas crianças matriculadas permanecem na escola ou se concluem o ensino fundamental na época esperada.
Verificou-se que na América Latina o número de matriculas está proporcionalmente relacionado com o número de repetência escolar e baixo índice de diplomação no ensino fundamental. Há um erro conceitual quando se trata da repetência escolar, não se faz distinção entre repetência e evasão escolar considera-se repetente alunos que voltam à mesma série no ano seguinte. Esse conceito tem como referência o sistema de graduação convencional, portanto nos sistemas diferenciados ou com regulamentações diferentes esse conceito é difícil ser aplicado.
Ocorre também que muitos docentes, supervisores e diretores das escolas analisam essa situação e contabilizam como ausentes(evasão escolar) os repetentes . Dessa forma os dados se misturam e a realidade fica oculta.
Estudos realizados na América Latina mostram que as estatísticas oficiais em torno da repetência estão sendo subestimadas enquanto que a evasão esta sendo superestimada, provavelmente esse fato se deve a falta de distinção entre as duas. Diante da problemática da repetência torna-se necessário uma maior preocupação com o tema conforme argumenta Torres.
De qualquer forma, a magnitude crescente e cada vez mais evidente da repetência indica a necessidade de uma maior atenção ao problema, bem como ao registro, á documentação e á analise em torno do mesmo. Particularmente, é preciso questionar acerca das percepções que os distintos agentes vinculados à questão educacional na escola(professores, supervisores, diretores), a família e a comunidade possuem da repetência. Por outro lado, as lições e as experiências que deram bons resultados , de preferência as excepcionais, nos países que conseguiram manter baixos índices de repetência, ou reduzi-los consideravelmente, precisam ser exploradas.(Torres:2004, p. 37).
Para que haja um plano de políticas e de reforma educacional , é necessária uma revisão minuciosa de como se procede a coleta de dados sobre a repetência. Existe uma divergência entre a forma de entender a repetência, enquanto que para estudiosos e especialista é muito claro que ela representa uma deficiência do sistema escolar, mas para a sociedade em geral (professores, alunos, pais) a repetência é aceita como uma algo natural inerente à vida escolar.
O sistema escolar criou a repetência como mecanismo para lidar com os diversos contextos inter e extra escolares que inibem a aprendizagem no meio escolar. È comum que os agentes escolares atribuem a não aprendizagem e consequentemente a repetência como um problema externo á escola, dessa forma a responsabilidade é da família, do aluno que não tem interesse, Os pais por sua vez aceitam essa afirmação de forma que o processo continua excluindo os alunos da escola e está não se permite verificar a questão a fim de transformar suas práticas educativas para cumprir o seu papel social. Em alguns casos entende-se a repetência como superioridade da escola e qualificação do professor visto que entende-se que o ensino de tal profissional e de tal instituição está aquém do entendimento do aluno e que provavelmente a repetência significa mais uma chance para que o aluno consiga aprender o conteúdo num outro momento.
Percebe-se então que a repetência é vista de diversos ângulos com opiniões especificas variando de uma comunidade para outra, de classe social bem como de diferentes agentes(professores, diretores, pais). Então para resolver a questão da repetência torna –se necessário observar não só os dados estatísticos mas as formas subjetivas a qual ela é enxergada.
A repetência acontece com maior freqüência nas primeiras séries do ensino fundamental devido a problemas de manejo da alfabetização infantil, provavelmente no ensino da leitura e escrita. O início da atividade escolar é muito importante pois é nessa fase que ocorre a construção de aprendizagens que condicionarão positiva ou negativamente as futuras aprendizagens, inclusive a auto- estima e a autoconfiança.
O critério mais utilizado para a repetência tem sido o domínio da leitura e escrita, a dificuldade para a alfabetização está mais agravado nos países em desenvolvimento devido às salas muito populosas, falta de experiência do professor e ausência de material didático. A repetência precisa ser revista pois ela reforça as necessidades desfavoráveis dos alunos pobres quanto ao ingresso á escola.
Segundo Torres(2004,p. 38)
“ Não apenas para as crianças provenientes de famílias pobres, mas para todas as crianças, a alfabetização deveria ser considerada uma meta não da primeira série, mas pelo menos, das quatro primeiras séries do ensino fundamental.”
Quem decide se o aluno será aprovado ou não é o professor/a e o critério para tal decisão são os mais variados, normalmente são baixas qualificações ou qualificações insuficientes para proseguimento dos estudos em outro nível. É necessário observar que segundo avaliação e valores de tais professores se faz a constatação da não capacidade do aluno. Esses métodos podem ser arcaicos e não servir ao verdadeiro propósito. Além do que o critério utilizado pelo professor pode não ser significativo para constatação da não aprendizagem.
Estudos realizados nos países em desenvolvimento e nos países industrializados contradiz a hipótese de que a repetência assegura a aprendizagem, ao contrario junto com a pobreza ela é um mecanismo que favorece a evasão escolar. A repetência reforça as baixas expectativas, o baixo rendimento , a baixa auto-estima e o fracasso escolar. Fica fácil compreender que a repetência propaga mais repetência e uma desilusão quanto ao futuro.
Financeiramente a repetência também proporciona um desperdício de recursos já que será gasto mais recursos com um mesmo aluno na mesma série. Esses recursos poderiam ser utilizados para sanar as deficiências quantitativas e qualificativas que convergem na falta de acesso, no mau ensino, na evasão.
Embora a questão da repetência seja similar em todo o mundo,ela deve ser tratada de forma singular pois existem visões e conceitos subjetivos em cada região conforme já mencionado.
A soluções que vem sendo dadas a questão da repetência é no sentido de diminuir o seu efeito e tem como principal foco o aluno, nesse sentido está sendo oferecido uma educação compensátoria como aumento das horas do aluno na escola, programa de desenvolvimento infantil para preparar as crianças para a iniciação ás primeiras séries, reforço escolar e por assim vai. Essas soluções abordam a repetência como responsabilidade do aluno, e não de um sistema pois oferece aos alunos os mesmos objetivos de aprendizagem, o mesmo currículo e os mesmos métodos de aprovação.
Alguns paises adotaram a aprovação automática como mecanismo para acabar com a repetência , em alguns casos esse mecanismo foi aplicado ás duas ou três primeiras séries do ensino fundamental ou em determinados ciclos, tal procedimento oferece maior tempo para que os alunos se apropriem do conhecimento e evita uma rotulação precoce da incapacidade do aluno. A crítica de tal procedimento está no fato de não se criar medidas complementares para auxiliar os alunos com dificuldade de aprendizagem, além do que muitos pais são contra essa medida porque o não trabalho diferenciado com tais alunos proporciona que estes avancem os anos para séries seguintes sem ao menos adquirir os conhecimentos básicos esperados para tal fase. Constatação essa que fez com que vários países interrompenssem a promoção automática.
A promoção automática serviu para verificação de que diminuir a repetência não significa necessariamente melhorar a qualidade de ensino, porém ela abriu um leque para chamar a atenção para mudança de atitude em relação a repetência.
Bibliografia:
TORRES. Rosa Maria. Repetência Escola: Falha do aluno ou Falha do Sistema? In : GIL.Carlos Hernandez. MARCHESI.Álvaro(org). Fracasso Escolar uma Perspectiva Multicultural. Porto Alegre:Artmed,2004.
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